Hoje trago um texto retirado do livro de Robert Wicks Availability e traduzido por mim.
Disponibilidade é um dom simples porém enorme. A liberdade de se fazer presente quando necessitam de nós é algo especial. É uma oportunidade de ser espiritual - de estar aberto ao relacionamento no sentido mais profundo e elegante do termo. Porém, este estado de vida maravilhoso, frequentemente parece estar oculto ou distorcido nos dias de hoje. Hoje, a disponibilidade está escassa.
Alguns de nós é "muito disponível". Deste modo, a verdadeira disponibilidade se torna enfraquecida. Ficamos muito ocupados para rezar, muito cansados para refletir, e, ironicamente, muito estimulados interpessoalmente para nos fazermos verdadeiramente presentes para os outros.
Alguns ficam ansiosos e se esquivam. Estar disponível para Deus parece causar muitas perguntas e dúvidas. Passar algum tempo sózinho já não é mais relaxante; pelo contrário, sentimos solidão ou ficamos preocupados com nossos erros e falhas. E estar com os outros também não parece ajudar; em alguns casos, nos sentimos usados, desprezados, ou incompreendidos. O resultado final é que nossas expectativas de intimidade não se concretizam e sentimos necessidade de nos afastar mais ainda.
Esta situação não só é triste; mas é perigosa. Sem um senso de disponibilidade para si mesmo, para os outros e para Deus, a vida perde sua espiritualidade. Os relacionamentos sofrem, se rompem, e ficamos com um vazio ou com um sentimento de confusão.
Estar disponível aos outros - o tanto quanto for possível - exige que estejamos continuamente conscientes de quem somos psicologicamente, e onde estamos espiritualmente. Em outras palavras, devemos fazer um esforço para termos "consciência própria" o tanto quanto for possível.
Este ponto obviamente não é novo. Os terapeutas apontam para a necessidade daqueles que querem ajudar de estarem constantemente num processo de auto-avaliação. Figuras religiosas, como Santa Teresa de Ávila, desde muito precederam os psicólogos, enfatizando este mesmo sentimento do ponto de vista teológico; conhecimento próprio e conhecimento de Deus andam juntos. Assim, do ponto de vista psicológico devemos procurar aprender quais são nossas motivações e intenções inconcientes, enquanto que do ponto religioso, devemos sempre procurar discernir onde o espírito nos está levando.
Quanto mais removermos aquilo que bloqueia nossa capacidade de percebermos quem somos e em quem seremos, mais verdadeiros poderemos ser em nossa resposta ao chamado do Evangelho para servirmos a Deus e ao próximo. Devemos estar disponíveis, assim, para nós mesmos, a fim de que nossos relacionamentos possam fluir de uma atitude saudável e de uma consciência clara sobre nossas motivações.
Arrependei-vos e crede no Evangelho
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É interessante que a Quaresma — o tempo da Misericórdia por excelência —
comece com uma solene ameaça: “arrependei-vos e crede no Evangelho!”. É com
esta...
4 years ago
Se só podemos dar aquilo que temos, só podemos ser disponíveis para os outros quando soubermos quem de fato somos. Só quando eu estiver consciente de mim mesma, poderei ser dom para o próximo. E só podemos conhecer bem a nós mesmos quando buscarmos conhecer a Deus e entender o que Ele espera de nós. Interessante a reflexão. :)
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