Friday, July 30, 2010

Santo remédio

Gosto muito de Chesterton, muito embora algumas vezes eu não entenda certas referências que ele faz em seus textos. Isso se deve ao fato dele escrever sobre acontecimentos de sua época e de seu país dos quais eu não faço a menor idéia, um sinal de minha ignorância de certos fatos históricos. De qualquer forma, ele é sem sombra de dúvida uma mente brilhante e eu aprendo muito com ele. Mas desta vez ele não fala de sua época.

Partilho com vocês um pedacinho que tirei de seu livro sobre São Francisco e São Tomás de Aquino. Os destaques e os grifos são meus.

O Santo é um remédio porque ele é um antídoto. Na verdade, é por isso que o santo na maioria das vezes se torna um mártir; confundem-no com veneno porque ele é antídoto. Geralmente você o encontra restaurando a sanidade ao mundo por evidenciar exatamente aquilo que o mundo ignora, e que de forma alguma é sempre a mesma coisa em todas as épocas. E, mesmo assim, cada geração procura instintivamente pelo seu santo; e ele não é aquilo que as pessoas querem, mas ao contrário, aquilo que as pessoas precisam. Este é certamente o significado daquelas palavras aos primeiros santos: “vós sois o sal da terra”; mas foi tão mal compreendido que fez o ex-Kaiser dizer com toda solenidade que seus musculosos alemães eram o sal da terra; querendo com isso dizer que eles eram os mais musculosos da terra e portanto, os melhores. Mas o sal tempera e conserva a carne, não porque é igual `a carne; mas porque é bem diferente dela. Cristo não disse aos seus apóstolos que eles eram somente pessoas excelentes, nem que eram as únicas pessoas excelentes, mas que eram pessoas excepcionais; pessoas permanentemente incôngruas e incompatíves; e esse texto sobre o sal da terra é tão forte e azedo agudo como o sabor do sal. E é porque eles eram as pessoas excepcionais, que eles não podem perder sua qualidade excepcional. “Se o sal perde o sabor, com que lhe será restituído o sabor?” é uma pergunta muito mais justa do que uma reclamação sobre o preço da carne. Se o mundo se tornar mundano demais, a Igreja poderá repreendê-lo; mas se a Igreja se tornar mundana, o mundo não poderá repreender sua mundanidade de maneira adequada.