Wednesday, December 15, 2010

Quando um homem diz sim

Essa página avulsa foi tirada da entrevista do Papa Bento XVI `a Peter Seewald que foi publicada no livro Luz do Mundo. Dedico-a aos meus amigos seminaristas, especialmente ao Silvio que será ordenado em agosto de 2011. A tradução é minha. Boa leitura!

O senhor não quis ser bispo, não quis ser prefeito, não quis ser papa. Não é assustador quando as coisas acontecem repetidamente contra a sua própria vontade?
É assim: Quando um homem diz 'sim' durante sua ordenação ao sacerdócio, ele pode fazer uma idéia de qual seja o seu carisma, mas ele também sabe: "Eu me coloquei nas mãos do bispo e fundamentalmente nas mãos do Senhor. Não posso pegar e escolher o que eu quiser. No final, devo me deixar guiar."
Eu tinha de fato a noção de que meu carisma era ser professor de teologia, e fiquei muito feliz quando essa minha idéia se tornou uma realidade. Mas também estava claro para mim: "Eu estou sempre nas mãos do Senhor e devo estar preparado também para as coisas que não desejo."
Assim, foi certamente uma surpresa ter sido afastado e não poder seguir meu próprio caminho. Mas como disse, o 'sim' fundamental também continha o sentido de que eu permaneço `a disposição do Senhor e talvez tenha que algum dia fazer coisas que eu próprio não desejaria fazer.


Meu comentário: não deveríamos todos ter essa mesma convicção de ser um instrumento nas mãos do Senhor independente do carisma de cada um? Mas ô dificuldade aceitar quando as coisas não correm de acordo com o nosso projeto! Que essas palavras do Papa nos sirvam de inspiração.
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Tuesday, November 2, 2010

Quando a América temeu os católicos

Será que algum dia irão escrever um artigo entitulado "Quando o Brasil temeu os católicos"?

Boa leitura!

Tradução: Sandra Katzman

No início de 1900, muitos americanos ficaram genuinamente assustados pela percepção deles de uma ameaça religiosa vinda da Igreja Católica [Apostólica] Romana e por suspeitas de intenções imperialistas de seu líder, o Papa. Ele estaria tramando a derrubada dos Estados Unidos, advertiam os temerosos, a fim de "tornar a América Católica." Seus soldados, dezenas de milhares de católicos que se chamavam os Cavaleiros de Colombo, estariam ocupados armazenando armas e munições nos porões de suas igrejas, todos em preparação para o dia, quando seu líder papista daria o sinal para a insurreição violenta começar.

Os portadores de tais crenças não eram apenas alguns malucos extremos seguramente superados em número pelos seus vizinhos de olhos claros religiosamente tolerantes. Ao contrário, textos abertamente anti-católicos muito populares vertiam das bancas de todo o país, em jornais como o Jeffersonian do senador Tom Watson, de Atlanta e o Menace de Aurora, Missouri, cujas assinaturas superavam as dos maiores jornais de Nova York e Chicago juntos. As eleições foram ganhas com base nas promessas de afastar os católicos dos cargos públicos de confiança. Apenas "os americanos verdadeiros" deviam ocupar essas posições, anunciavam, não os católicos, que eram leais primeiro ao seu líder religioso em Roma.

Deputados e senadores estaduais foram também persuadidos a tomar medidas contra a detectada ameaça, refletindo assim o medo anti-católico em suas "leis de inspecção de conventos." Essas leis, pouco lembradas hoje, autorizavam as buscas sem mandado em edifícios Católicos - conventos, mosteiros, igrejas e casas paroquiais – em procura de armas e mulheres jovens supostamente seduzidas a entrarem para um convento de freiras através de mentiras católicas.

O temor religioso nesta escala teve consequências fatais. Oitenta e nove anos atrás, em Birmingham, Alabama, em meio a essa atmosfera anti-católica burbulhante, o padre James E. Coyle foi brutalmente assassinado. Coyle, natural da Irlanda, foi enviado aos Estados Unidos para iniciar o seu sacerdócio. Quando ele se atreveu a levantar-se em defesa de sua fé, agentes federais advertiram o bispo de Mobile sobre ameaças de morte `a vida de Coyle e promessas de queimar sua igreja em Birmingham.

Tais ameaças não eram sem valor. Durante este mesmo período, a popularidade da Ku Klux Klan explodiu depois de se redefinir como uma organização "patriótica" fraterna dedicada a salvaguardar os Estados Unidos contra a ameaça de católicos, judeus e imigrantes que inundavam o país em números sem precedentes. Este novo Klan atraiu alguns dos "melhores homens da cidade" - médicos, advogados, juízes, policiais, até mesmo os clérigos.

Em 11 de agosto de 1921, um desses homens - um pastor metodista, o reverendo Edwin R. Stephenson – foi com uma arma carregada para a varanda da casa de Coyle e matou-o em frente a uma rua cheia de testemunhas. Cerca de uma hora antes, o padre tinha aparentemente cometido o ato imperdoável de celebrar o matrimônio da filha de 18 anos de Stephenson com um católico praticante com descendência de Porto Rico, e cuja profissão era aplicar papel de parede.

A KKK reagiu rapidamente a esta iniciativa, levantando fundos para a defesa de Stephenson e contratação de seu principal advogado, um jovem futuro juiz da Suprema Corte, Hugo Black. Black, esperava-se, poderia convencer um júri do Sul a ver Stephenson como um herói da comunidade ao invés de um assassino intolerante. Os artigos publicados no Menace durante todo o julgamento batiam no mesmo tema, colocando uma das preocupações mais fortes da época contra a própria justiça. Você pode adivinhar o resultado.

Stephenson saiu do tribunal um homem livre, e ele nunca nem mesmo se desculpou. Black se juntou ao Klan 18 meses depois e, com seu apoio, foi eleito para o Senado dos EUA. Só anos mais tarde, depois de um repórter revelar sua adesão quando ele se preparava para assumir sua cadeira no Supremo Tribunal Federal, ele calmamente afirmou que não partilhava mais das crenças do Klan e não era mais um membro. Black sobreviveu ao escândalo que se seguiu.

Na época, esses homens não se consideram fanáticos religiosos. Eles acreditavam que eram patriotas, bons pais e filhos, maridos e irmãos protegendo suas famílias e a nação contra uma ameaça externa que eles temiam ter como intenção a sua destruição.

A febre anti-católica dos anos 1920 não era uma história regional, era uma história americana, se estendendo ao norte, leste e oeste, caracterizando os católicos como cidadãos de segunda classe por décadas. E continuou por mais de 40 anos, só terminando quando o candidato presidencial [católico] John F. Kennedy se sentiu obrigado a dizer diretamente que sua lealdade era para com os Estados Unidos, e não para com o Papa. Se as conseqüências tivessem sido menos terríveis e se não houvessem tantos sinais de que não aprendemos com nossos erros, hoje, a pior consequência do fervor anti-católico poderia ser apenas vergonha.

Sharon Davies é professora da Universidade Estadual de Ohio Moritz Faculdade de Direito e autora de "Road Rising:. Um conto verdadeiro de amor, raça e religião na América" Ela escreveu esse artigo para o Los Angeles Times (McClatchy-Tribune).

Leia o original em inglês aqui.

Monday, October 25, 2010

Blogueiros católicos procuram purgar dissidentes

Faz tempo que não coloco nada aqui. Estamos em época de eleição e todo mudo está ocupado com o futuro do nosso país, não é para menos. Diante do episódio recente dos panfletos da CNBB e da suposta traição de Gabriel Chalita, achei este artigo bem propício. Boa leitura.



Por ZOLL RACHEL
The Associated Press Associated Press
tradução livre Sandra Katzman

Segunda-feira 25 de outubro de 2010, 12:05

-- Existe pressão para mudar a Igreja Católica Romana na América, mas não vem dos suspeitos de costume. Uma nova geração de conservadores teológicos tomou conta de blogs e YouTube para dizer a igreja não é suficientemente católica.

Enfurecidos com a dissidência que eles acreditam ter corrido solta por décadas, e sem medo de dizer isso na mais perfeita linguagem, estes ativistas estão dando nome aos bois e deixando a igreja inquieta.

-Na Arquidiocese de Boston, os paroquianos estão dissecando o trabalho de um conselheiro do cardeal procurando por qualquer dica de influência marxista.

-Os blogueiros estão vasculhando dados financeiros de campanha para expor os funcionários de agências católicas que fizeram doações a políticos que apoiam o direito ao aborto.

-RealCatholicTV.com, cujo estúdio fica no subúrbio de Detroit, está a caça de freiras, padres e bispos "traidores" em toda a igreja americana.

"Estamos empenhados em uma caça às bruxas tanto quanto um médico a remover um câncer está empenhado em uma caça às bruxas", disse Michael Voris da RealCatholicTV.com e St. Michael’s Media. "Estamos apenas apontando o holofote para as pessoas que são católicas e que não vivem a fé."

John Allen, analista do Vaticano para o National Catholic Reporter, apelidou esta tendência "catolicismo Talibã". Mas ele diz que não é um fenômeno estritamente conservador - os progressistas podem se enquadrar nessa mentalidade também, diz Allen. Alguns católicos de esquerda ficam indignados com qualquer exercício de autoridade da igreja.

No entanto, na Internet e na igreja, os conservadores estão tendo o maior impacto.

Entre os muitos empreendimentos de mídia de Voris está a CIA - a Agência Católica de Investigação - um programa da RealCatholicTV para "trazer à luz as façanhas ocultas de católicos-em-nome-somente, que estão seqüestrando a Igreja para seus próprios fins, não os fins de Cristo".

Em um episódio chamado "Catholic Tea Party", Voris disse: "Os católicos devem estar conscientes e estudar e conhecer o suficiente sobre a fé para reconhecer uma freira herege ou um sacerdote ou bispo traidor quando dão de cara com um deles - não para que possam pedir a expulsão deles, mas para que possam rezar por eles, e alertar, o máximo possível de católicos sobre suas traições."

O blog "Bryan Hehir Exposed" destina-se a um conselheiro do cardeal Sean O'Malley de Boston, o Rev. J. Bryan Hehir, que é o ex-chefe da National Catholic Charities e professor da Universidade de Harvard Kennedy School of Government. Entre as afirmações dos blogueiros está a de que Hehir é um simpatizante do marxismo, que assola a doutrina católica sobre o aborto e o casamento.

Hehir, que aconselha líderes da igreja por quatro décadas, não respondeu a nenhuma das acusações e nem o bispo O'Malley, um frade franciscano capuchinho conhecido por sua humildade. No entanto, disse O'Malley em abril em seu próprio blog que Hehir "inspira-nos com sua compaixão, visão e fidelidade à obra da Igreja." Em agosto, O'Malley bloqueou o acesso `a da sede da arquidiocese por parte de um dos blogs que fazem críticas, o anônimo Boston Catholic Insider.

"A falta de civilidade, é muito preocupante", disse Terrence C. Donilon, o porta-voz da arquidiocese.
Os trabalhos da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA é outro alvo frequente.

Ativistas e blogueiros, incluindo Ministério Belarmino Veritas do Texas, estão investigando a Campanha para o Desenvolvimento Humano dos bispos católicos, um programa de doação nacional criado em 1970 para apoiar a organização comunitária e o desenvolvimento econômico.

Os ativistas concluiram que alguns dos beneficiados apoiam casamento entre pessoas do mesmo sexo, contracepção artificial ou o direito ao aborto. Como parte dos trabalhos, os ativistas acusaram o diretor da Pastoral Nacional dos Bispos para Justiça Social de servir no comitê de uma ONG, enquanto ela defendia o casamento gay e o aborto. As acusações contra ele foram consideradas improcedente.

Ainda assim, os blogueiros tiveram um impacto.

O bispo que fiscaliza os fundos de combate à pobreza, disse que alguns, mas não todos, dos benficiários acusados tinham realmente tomado posições contrárias aos ensinamentos da igreja e deixaram de receber o benefício. Desde que a polêmica surgiu, em 10 das 195 dioceses dos EUA tiveram queda anual de doações ou suspenderam a coleta para o programa, e os bispos estão revendo suas políticas de concessão.

Thomas Peters, que dirige o popular blog "AmericanPapist", disse que os católicos ortodoxos adotaram a Web porque eles sentem que finalmente possuem uma plataforma que pode competir com publicações católicas progressistas bem estabelecidas, como o National Catholic Reporter. (Alguns blogueiros conservadores chamam o jornal "National Catholic Destroyer".)

Peters, 25, considera-se no lado mais positivo da blogosfera católica ortodoxa, apesar de alguns de seus alvos discordarem.

Ele condena o veneno que vê online, e promove uma coluna do blog que ele chama de "bishops with backbone", em louvor a líderes da igreja que enfrentam os dissidentes. Ele também acrescentou uma função online para enviar notas de agradecimento quando os líderes tomam posições difíciels, que recentemente, gerou 500 cartas em um dia para o arcebispo John Nienstedt de St. Paul, Minneapolis, que recusou a Sagrada Comunhão aos manifestantes dos direitos dos homossexuais em uma missa recente.

"Todas essas coisas que dizemos em público são voltadas para o maior bem da igreja", disse Peters. Ele começou seu blog há vários anos e agora trabalha para o American Principles Project, um grupo conservador fundado por Robert George da Princeton University.

O aumento do fervor dos leigos conservadores vem num momento em que a necessidade de ativismo parece menos urgente. A hierarquia nos EUA tem tido uma onda de aposentadorias nos últimos anos que tem varrido os líderes progressistas. Os homens que tomam seus lugares são geralmente mais tradicionais e dispostos a assumir uma linha mais dura contra os católicos desobedientes, desde políticos a paroquianos.

Mas mesmo com estas mudanças, os blogueiros dizem que muitos poucos prelados se pronunciam. Os ativistas dizem também que desde a década de 1970, após as reformas de modernização do Concílio Vaticano II, os liberais têm enchido a burocracia da igreja, escondendo a dissidência dos bispos a que servem.

"Há um velho ditado: Depois que se torna um bispo não há mais más notícias ou uma refeição ruim", disse Carol McKinley, 53, um blogueiro na área de Boston, que chamou seu site "The Tenth Crusade". "Nem um único bispo vai olhar para o todo. Eles gostam de sua ignorância."

Os críticos dos blogueiros alegam que os ativistas são motivados principalmente pela política, não pela teologia. Os blogs apresentam quase tantos ataques ao presidente Barack Obama como aos líderes da igreja. O site de McKinley, até recentemente, era chamado de "Throwthebumsoutin2010" (Throw the bums out in 2010), em antecipação das eleições do meio do mandato.

O falecido Saul Alinsky, o pai da moderna organização comunitária, é também um tema comum nos blogs conservadores católicos. Ativistas reclamam que muitos grupos que recebem subsídios da Campanha Católica para Desenvolvimento Humano usam a tática de Alinsky, um herói da esquerda política e uma preocupação da direita política desde as eleições de 2008. Quando Obama era um organizador comunitário em Chicago, ele trabalhou com pessoas treinadas por Alinsky.

No entanto, os ativistas conservadores católicos insistem que sua fé, especialmente o ensinamento da Igreja sobre o aborto, inspira todo o seu trabalho.

Autoridades católicas estão se esforçando para chegar a um acordo com os blogueiros e organizaram várias conferências mídiaticas recentes sobre o tema, a última foi no Vaticano neste mês. A Conferência Episcopal dos EUA emitiu diretrizes de mídia social em Julho pedindo pela caridade cristã online.

Ainda assim, ninguém espera que a blogosfera católica mude o tom tão cedo. Muitos dos conservadores mais ativos online passram anos tocando as trombetas sobre a dissidência por conta própria em suas dioceses locais sem conseguir muito efeito. Agora, eles sentem que estão finalmente sendo ouvidos online.

"Há um sentimento geral entre muitos fiéis católicos de que não importa o quanto eles escrevam aos bispos, não importa o quanto eles procurem os párocos, todas estas coisas contrárias `a fé continuam sendo ensinadas" disse Voris. "Acho que católicos em suficiente estão dizendo: Chega. Aguentei demais."

© 2010 The Associated Press © 2010 Associated Press

Wednesday, September 22, 2010

Ninguém diz isso para as pessoas

Estava ouvindo o rádio outro dia e escutei a entrevista de Vicki Thorn. Eu não sabia, mas ela é a fundadora do Projeto Rachel do qual fui voluntária na minha antiga paróquia.

Enfim, ela falou de um assunto que eu desconhecia até então: a bioquímica da pílula. Gente, isso é muito sério.

Abaixo eu coloquei o vídeo de uma pequena parte da palestra dela  e a tradução daquilo que ela fala para aqueles que não podem ver o vídeo por causa de conexão lenta ou não entendem porque não sabem inglês. No final tem o endereço de onde adquirir o DVD com a palestra dela.

A Biologia da Teologia do Corpo



Essa questão dos anticoncepcionais químicos é uma questão muito séria.

Estamos no aniversário da Humanae Vitae, e eu vou dizer uma coisa, o Espírito Santo nos pôs na linha com esse documento por causa dos leigos e outros faziam pressão para que deixássemos a questão dos anticoncepcionais químicos de lado dizendo: "isso não é um problema de verdade, sabe, Deus criou isso também e deveria ser okay".

Mas deixa eu explicar uma coisa para vocês, existem alguns problemas verdadeiramente graves. E eu não estou falando de problemas morais, estou falando de ciência.

Se eu não faço uso de anticoncepcional químico ... vocês se lembram que eu disse que existe uma divisão de pessoas em 80% e 20%.

Se eu faço parte dos 80% e conheço um homem (estou falando da parte feminina), eu conheço um homem e ele cheira bem. Esse é o primeiro sinal. Isso não significa que ele seja necessariamente um bom parceiro, sabe, é preciso levar outras coisas em conta, mas esse é o primeiro.

Muito bem, agora, o que isso significa é que, se eu não estiver usando anticoncepcional químico então ele é um bom par para o meu sistema imunológico.

Isso se chama complexo MHC, Complexo Principal de Histocompatibilidade (Major Histocompatibility Complex). Todas as nossas células possuem esse marcador, e nós percebemos isso através dos feromônios.

Os animais reagem assim. No reino animal os animais não acasalam com aqueles cujo sistema imunológico seja muito parecido com o deles, eles são considerados parentes, e isso é percebido pelo odor, eles sabem disso e o mesmo acontece conosco neste sentido.

Agora, é por isso que não nos casamos com primos em primeiro grau, é preciso haver uma diferença aqui em termos de fertilidade.

Se eu estiver usando anticoncepcionais químicos, faço parte dos 20%, eu sou atraída pelo odor de homens que são muito parecidos com meu pai ou meu irmão em termos de sistema imunológico. Isso significa que, caso nos casemos, a fertilidade fica reduzida.

A primeira vez que se falou disso na Europa, o Guardian que não é um jornal cristão, é um jornal secular no Reino Unido, publicou um artigo sobre o teste do cheiro. E o teste do cheiro funciona assim:

Se você estiver usando anticoncepcional químico e você conhece a pessoa que você acha que é o Mr. Right e você quer ter filhos com ele, então você precisa fazer o seguinte: você precisa parar de usar o anticoncepcional químico e deixar que seu corpo volte ao normal. Não sei quanto tempo isso demora. Segundo, depois que seu corpo tiver voltado ao normal, então você faz com que o Mr. Right (ou Mr. Wrong) use uma camiseta por 3 dias sem usar nada que tenha cheiro - nada de loção após barba, nada de sabonete cheiroso, nada de shampoo - e então depois você cheira a camiseta dele. Se a camiseta não lhe cheirar bem, então essa não é uma boa parceria.

Alexander Sanger, você conhece o nome, o neto de Margaret Sanger da International Planned Parenthood, menciona essa pesquisa no livro Beyond Choice, e ele diz que a pílula é um medicamento terrivelmente nocivo não só para as mulheres mas para a sociedade porque nós alteramos nossa fertilidade de uma forma que jamais será corrigida.

Ninguém diz isso para as pessoas.

Não é que você não vá amar essa pessoa, mas se você tentar ter filhos provavelmente terá problemas em conceber, terá aborto espontâneo ou problemas de fertilidade.

Se você parar de usar a pílula e não engravidar, pode acontecer de você não gostar mais dele. Tenho que dizer-lhes, eu conheço casais que não sabem porque se divorciaram mas já não se gostavam mais.


DVD: The Biology of the Theology of the Body - Our Father's Will Communications

Monday, September 20, 2010

Abusos litúrgicos

Wednesday, September 1, 2010

Uma estória de amor

Era uma vez um soldado americano que servia numa base estrangeira. Certo dia, ao ler o jornal da sua terra, enviado pela mãe, viu a fotografia de uma moça. O soldado não a conhece. Nunca ouviu falar nela. Porém, ao fitá-la, diz: "Oh, agrada-me esta moça. Gostaria de casar-me com ela".

O endereço da moça estava no pé da foto e o soldado decide escrever-lhe, sem muita esperança de receber resposta. E, no entanto, a resposta chega. Começam uma correspondência regular, trocam fotografias e contam mutuamente todas as suas coisas. O soldado enamora-se cada dia mais dessa moça, que nunca viu.

Finalmente, o soldado é licenciado e volta para casa. Durante dois anos cortejou-a à distância. Seu amor por ela fê-lo melhor soldado e melhor homem; procurou ser o tipo de pessoa que ela queria que fosse. Fez as coisas que ela desejaria que fizesse e evitou as que a desagradariam se chegasse a conhecê-las. Já é um anseio ardente por ela o que palpita em seu coração, e está voltando para casa.

Podemos imaginar a felicidade que embeberá cada fibra de seu ser ao descer do trem e tomar, enfim, a moça em seus braços? "Oh! — exclamará ao abraçá-la — se este momento pudesse eternizar-se!".

Sua felicidade é a felicidade do amor alcançado, do amor que se encontra em completa posse da pessoa amada. Chamamos a isso fruição do amor. O jovem recordará sempre este instante – instante em que seu anseio foi premiado com o primeiro encontro real - como um dos momentos mais felizes da sua vida na terra.

É evidente que se, para começar, o jovem não se tivesse impressionado com a fotografia, ou se após umas poucas cartas tivesse perdido o interesse por ela, pondo fim à correspondência, essa moça não teria significado nada para ele, ao seu regresso. E mesmo que a encontrasse na estação, à chegada do trem, para ele o seu rosto teria sido como outro qualquer na multidão. Seu coração não se sobressaltaria ao vê-la.

É evidente que não podemos amar o que não conhecemos.

Se esse jovem não tivesse visto a fotografia da moça, é claro que nunca teria chegado a amá-Ia. Não poderia ter-se enamorado de alguém de quem nem sequer tivesse ouvido falar. E se, mesmo depois de ver a fotografia da moça, não lhe tivesse escrito e, pela correspondência, tIvesse conhecido o seu atrativo, o primeiro impulso de interesse nunca se teria transformado em amor ardente.

Por isso "estudamos" religião. Por isso temos aulas de catecismo na escola e cursos de religião no ensino médio e superior. Por isso ouvimos sermões aos domingos na Missa e lemos livros e revistas de doutrina cristã. Por isso temos circulos de estudo, seminários e conferências. São parte do que poderíamos chamar a nossa "correspondência" com Deus. São parte do nosso esforço por conhecê-lo melhor, para que nosso amor por Ele possa crescer, desenvolver-se e conservar-se.

fonte: Leo Trese, A Fé Explicada

Monday, August 30, 2010

Para que nos fez Deus?

Lembre-se disso aqui a próxima vez que você for fazer algo por alguém.

Há dois modos de responder a essa pergunta, conforme a consideremos do ponto de vista de Deus ou do nosso. Considerando-a do ponto de vista de Deus, a resposta é: "Deus nos fez para mostrar a sua bondade". Posto que Ele é um Ser infinitamente perfeito, a principal razão pela qual faz alguma coisa deve ser uma razão infinitamente perfeita. Mas só há uma razão infinitamente perfeita para se fazer alguma coisa: é fazê-la por Deus. Por isso, seria indigno de Deus, contrário à sua infinita perfeição, que Ele fizesse alguma coisa por uma razão inferior a Si. mesmo.

Talvez o compreendamos melhor se o aplicarmos a nós. Mesmo para nós, a maior e melhor razão para fazermos alguma coisa é fazê-la por Deus. Se a faço por outro ser humano - por mais nobre que seja, como alimentar um faminto - e a faço especialmente por essa razão, sem me referir a Deus de alguma forma, faço algo imperfeito. Não é uma coisa má, mas é menos perfeita. Isso seria assim, mesmo que se tratasse de um anjo ou da própria Santíssima Virgem, se prescindissem de Deus. Não existe maior motivo para fazer uma coisa que fazê-la por Deus. E isso é certo tanto para o que Deus faz como para o que nós fazemos.

A primeira razão, pois - a grande razão pela qual Deus fez o universo e nos fez a nós -, foi a sua própria glória: para mostrar o seu poder e bondade infinitos. Seu infinito poder mostra-se pelo fato de existirmos. Sua infinita bondade, pelo fato de Ele nos querer fazer participar do seu amor e felicidade. E se nos parece que Deus é egoísta por fazer as coisas para sua própria honra e glória, é porque não podemos deixar de pensar nEle em termos humanos. Pensamos em Deus como se fosse uma criatura igual a nós. Mas o fato é que não existe nada nem ninguém que mais mereça ser objeto do pensamento de Deus ou do seu amor que o próprio Deus.

-- do livro A Fé Explica de Leo Trese

Wednesday, August 11, 2010

Erro médico

Este texto eu escrevi em 16 de maio de 2007, mas como estamos em época de eleições, achei que valia a pena ressuscitá-lo. Trata-se de uma tradução comentada de um texto de Chesterton. Não deve ser surpresa para ninguém que eu sou fã desse homem já tem algum tempo. Boa leitura.

Aborto: Uma questão de saúde pública

As obras de G.K. Chesterton (1874-1936), escritor inglês, não são de fácil leitura para a pessoa comum. Seus escritos possuem todo um contexto desconhecido para o leitor moderno. Num país em que o acesso à educação é historicamente privilégio das elites, onde no século XXI a maioria ainda tem que abandonar os estudos e procurar emprego para poder comer, não tem como falar em exposição à cultura e desenvolvimento político inglês do final do século XIX e início do século XX. Além do mais, o senso de humor e brilhantismo de Chesterton são incomuns nos dias de hoje. Depois de uma certa exposição ao seu estilo, percebe-se que seus argumentos defendem de forma engenhosa o bom senso e o homem comum. E assim, acabou sendo chamado de apóstolo do bom senso. Um escritor que deveria estar na moda nos dias de hoje justamente pela falta do tão necessário bom senso na sociedade atual. A leitura das obras de Chesterton é um exercício de raciocínio crítico.

E por falar em raciocínio crítico, o ministro da saúde Temporão disse por ocasião da visita do Papa ao Brasil, que o aborto é uma questão de saúde pública e que a solução para o problema da gravidez indesejada e das mortes e males ocasionados por abortos mal feitos e inseguros seria a legalização do aborto. Ou seja, existe uma doença – gravidez indesejada – e uma cura – legalização do aborto. A doença não é, como muitos defendem, infecção e morte causados por abortos mal feitos. Estes são consequências de um tratamento ineficaz para o chamado ‘problema’. E assim, gravidez, no mundo moderno, virou doença, um problema de saúde pública. Falou-se em mais de 200 mil mulheres procurando os serviços do SUS por ano, e em mais de 1 milhão de abortamentos clandestinos anuais. O que Chesterton diria a respeito disso?

O primeiro capítulo do livro “O que há de errado com o mundo?” cujo título é "Erro Médico", parece-me ser bastante apropriado. Divirta-se e faça suas próprias comparações.

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Um livro sobre pesquisa social moderna possui uma forma que é de certo modo muito bem definida. Começa, como regra, com uma análise, estatísticas, tabelas populacionais, diminuição do crime entre os congregacionalistas, aumento da histeria entre os policiais, e fatos parecidos; e termina com um capítulo que geralmente é intitulado “a solução”. Quase que totalmente devido a este método científico sólido e cuidadoso, “a solução” jamais é encontrada. Pois este plano médico de pergunta e resposta é um erro; o primeiro grande erro da sociologia. Ele sempre determina a doença antes da cura ser encontrada. Mas faz parte da definição e dignidade humana que, em questões sociais, devemos, na verdade, encontrar a cura antes da doença.

[nota: A solução para gravidez indesejada é o aborto? A solução para aborto mal feito é aborto bem feito?]




A falácia é uma das cinquenta falácias que derivam da loucura moderna pelas metáforas biológicas ou corporais. É conveniente falar de um organismo social, da mesma forma que é conveniente falar do “leão britânico”. Mas a [Grã]Bretanha é um organismo tanto quanto é um leão. A partir do momento que começamos a dar a uma nação a unidade e a simplicidade de um animal, começamos a pensar selvagemente. O fato de todo homem ser um bípede, não faz de cinquenta homens um centípede. Este tipo de coisa tem produzido, por exemplo, o grande absurdo de se falar perpétuamente sobre “nações jovens” e “nações velhas”, como se um país tivesse um tempo de vida físico fixo. Assim, o povo vai dizer que a Espanha entrou na senilidade final; e podem até dizer que a Espanha está perdendo todos os seus dentes. Ou vão dizer que o Canadá logo produzirá obras literárias; o que é o mesmo que dizer que o Canadá em breve terá um novo bigode. Os países são compostos de pessoas; e a primeira geração pode estar decrépita, ou a décima milésima pode ser vigorosa. Aplicações parecidas desta falácia são feitas por aqueles que vêem no aumento das posses nacionais, um simples aumento em sabedoria e estatura, como prova de estar sob o favor de Deus e do homem. De fato, estas pessoas usam menos as sutilezas de fazer paralelo com o corpo humano. Elas nem mesmo perguntam se um império está mais alto na sua juventude, ou se está mais gordo na idade avançada. Mas de todos os exemplos de erros em decorrência desta fantasia física, a pior é a que temos diante de nós: o costume de descrever exaustivamente um mal social, e depois propor um remédio social.

[nota: A gravidez indesejada deve ser considerada um mal social?]



Agora, nós, de fato, falamos primeiro sobre a doença nos casos de um colapso corporal; e fazemos isso por uma razão excelente. Porque, embora possa haver dúvidas sobre como o corpo ficou todo quebrado, não há dúvidas sobre o aspecto e condição que este deve voltar a ter . Nenhum médico propõe introduzir um novo tipo de homem, com uma nova disposição dos olhos ou dos membros. O hospital, por necessidade, pode mandar uma pessoa de volta para casa com um uma perna a menos: mas não enviará (num êxtase criativo) esta pessoa para casa com uma perna a mais. A ciência médica está satisfeita com o corpo humano normal, e só procura restabelecê-lo.

[nota: o produto da concepção é um resultado natural do funcionamento do corpo humano ou é um mal-funcionamento que necessita ser consertado?]





Mas a ciência social nem sempre está satisfeita com a alma humana normal; e tem todo tipo de alma a venda. O homem, como um idealista social, irá dizer: “Estou cansado de ser um puritano, quero ser pagão”, ou: “Depois desta provação do Individualismo vejo o paraíso do Coletivismo”. Agora, nos males físicos não existe nenhuma destas diferenças sobre o ideal final. O paciente pode ou não querer tomar quinino; mas com certeza quer saúde. Ninguém diz: “Estou cansado desta dor de cabeça; quero um pouco de dor de dente”, ou: “A única coisa contra esta gripe russa é um pouco de sarampo alemão”, ou “Apesar da experiência sombria deste catarro, eu vejo o paraíso brilhante do reumatismo”. Porém, toda a dificuldade de nossos problemas públicos é que alguns homens estão visando curas que outros homens consideram as piores doenças; estão oferecendo condições últimas como condições de saúde que outros descomprometedoramente chamam condições de doença. O sr. [Hilaire] Belloc disse uma vez que se desfaria da idéia da propriedade da mesma forma que de seus dentes; contudo, para o sr. Bernard Shaw, a propriedade não é um dente, mas uma dor de dente. Lord Milner tentou sinceramente introduzir a eficiência alemã; e muitos de nós logo estaríamos dando as boas vindas ao sarampo alemão. Dr. [Caleb] Saleeby gostaria honestamente de ter eugenia; mas eu preferio ter reumatalgia.

[nota: o aborto é uma cura ou uma doença muito pior?]



É este o fato dominante e cativante sobre a discussão social moderna; que a disputa não é meramente sobre as dificuldades, mas sobre o objetivo. Concordamos sobre o mal; é sobre o bem que devemos nos descabelar. Todos admitimos que uma aristocracia preguiçosa é uma coisa ruim. Não devemos de forma alguma admitir que uma aristocracia ativa seria uma coisa boa. Ficamos irritados com um sacerdócio descrente; mas alguns de nós ficaria com náuseas diante de um verdadeiramente religioso. Todo mundo fica indignado caso nosso exército seja fraco, incluindo as pessoas que ficariam ainda mais indignadas se fosse forte. O caso social é exatamente o oposto do caso médico. Nós não discordamos, como os médicos, sobre a exata natureza da doença enquanto concordamos sobre a natureza da saúde. Pelo contrário, todos concordamos que a Inglaterra está doente, mas metade de nós não olharia para ela e enxergaria aquilo que a outra metade chamaria de saúde próspera. Os abusos públicos são tão salientes e irritantes que colocam todas as pessoas generosas numa espécie de unanimidade fictícia. Esquecemos que, enquanto concordamos sobre o abuso das coisas, devemos discordar bastante sobre o seu uso. O Sr. [George] Cadbury e eu concordaríamos sobre o ‘pub’ ruim. Seria precisamente em frente de um bom ‘pub’ que nossas brigas pessoais aconteceriam.

[nota: Concordamos que a ocorrência de gravidez indesejada de forma desenfreada é um mal?




Eu mantenho, portanto, que o método sociológico comum é totalmente inútil: o de primeiro dissecar a pobreza miserável ou de catalogar a prostituição. Todos nós não gostamos da pobreza miserável; mas pode ser uma outra coisa se começarmos a discutir a pobreza independente ou decente. Todos nós desaprovamos a prostituição; mas nem todos aprovam a castidade. A única forma de discutir o mal social é alcançar imediatamente o ideal social. Todos podemos ver a loucura nacional; mas o que é sanidade nacional? Eu intitulei esse livro “O que há de errado com o mundo?” e o resultado do título pode ser fácilmente e claramente afirmado. O que está errado é que não perguntamos o que está certo.

[tradução livre: What’s wrong with the world?, The medical mistake – G.K. Chesterton]

Wednesday, August 4, 2010

A verdade sobre Educação

Mais Chesterton para vocês. Dessa vez o artigo foi tirado do livro O que Está Errado com o Mundo. Muito embora ele faça referências aqui a certos personagens a nós desconhecidos (bom, falo por mim, não sei a extensão cultural de todos aqueles que vão ler este texto), é possível entender a idéia que ele quer passar. Boa leitura.

Quando um homem é convidado a escrever o que ele realmente pensa sobre educação, uma certa gravidade lhe aperta e enrijece a alma, o que poderia ser confundido com a idéia superficial de desgosto. Se é verdade que os homens estão enjoados de palavras sagradas e cansados de teologia, se essa irritação irracional comum contra "dogma" surgiu de fato por um excesso absurdo de tais coisas entre os sacerdotes no passado, então imagino que estamos deixando uma bela produção de calão para deixar nossos descendentes enjoados. Provavelmente, a palavra "educação" um dia parecerá tão sem propósito e tão antiga como a palavra "justificação" hoje em um fólio Puritano. Gibbon achou assustadoramente engraçado que as pessoas tivessem brigado sobre a diferença entre "Homoousion" e Homoiousion". Chegará a época em que alguém vai rir ainda mais ao pensar que os homens bramiram contra a Educação Sectária e também contra a Educação Secular; e que os homens de destaque e posição realmente denunciaram as escolas por ensinar um credo, e também por não ensinar uma Fé. As duas palavras gregas de Gibbon são bastante parecidas, mas elas realmente significam coisas completamente diferentes. Fé e credo não são parecidos, mas querem dizer exatamente a mesma coisa. Acontece que credo é fé em latim.

Agora, depois de ter lido inúmeros artigos de jornais sobre educação, e até mesmo escrito uma boa parte deles, e tendo ouvido a discussão interminável e ensurdecedora ao meu redor quase desde que eu nasci, sobre se a religião era parte da educação, sobre se a higiene era parte essencial da educação, sobre se o militarismo era incompatível com a verdadeira educação, eu, naturalmente, ponderei muito sobre este substantivo recorrente, e tenho vergonha de dizer que foi relativamente tarde na minha vida que eu enxerguei o principal fato sobre isso.

Naturalmente, o principal fato sobre educação é que não existe tal coisa. Ela não existe, como a Teologia ou Militarismo. Teologia é uma palavra como Geologia, a vida militar é uma palavra como soldagem, estas ciências podem ser saudáveis ou não como hobbies, mas lidam com rochas e chaleiras, com coisas definidas. Porém educação não é uma palavra como geologia ou jarros. Educação é uma palavra como "transmissão" ou "herança", não é um objeto, mas um método. Deve significar a transmissão de determinados fatos, opiniões ou qualidades, até o último bebê que nascer. Eles podem ser os fatos mais triviais ou as opiniões mais absurdas ou as qualidades mais ofensivas, mas se são transmitidos de uma geração para outra, são educação. Educação não é uma coisa como teologia, não é uma coisa inferior ou superior, não é uma coisa na mesma categoria de termos. Teologia e educação estão para si como uma carta de amor está para o Correio. O sr. Fagin foi tão educativo como Dr. Strong, na prática, provavelmente, mais educativo. Significa dar algo - talvez veneno. Educação é tradição, e tradição (como o nome indica) pode ser traição.

Esta verdade primeira é francamente banal, mas é tão perpetuamente ignorada na nossa prosa política que precisa ser esclarecida. Um menino em uma pequena casa, filho de um pequeno comerciante, é ensinado a tomar seu café da manhã, a tomar seu remédio, a amar seu país, a fazer suas orações, e a usar suas roupas de domingo. Obviamente Fagin, se encontrasse um menino assim, iria ensiná-lo a beber gin, a mentir, a trair seu país, a blasfemar e usar bigode falso. Mas assim também o sr. Salt, o vegetariano, aboliria o desejum do rapaz, a sra. Eddy jogaria fora o remédio dele, o conde Tolstoi iria repreendê-lo por amar seu país, o sr. Blatchford o faria parar com suas orações, e o sr. Edward Carpenter, teoricamente censuraria seu traje dominical, talvez, todo tipo de roupa. Eu não defendo qualquer um desses pontos de vista avançados, nem mesmo de Fagin. Mas eu pergunto o que, entre muitos desses, foi feito da entidade abstrata chamada educação. Não é (como comumente se supõe) que o comerciante ensine educação mais cristianismo, o Sr. Salt, educação mais vegetarianismo; Fagin, educação mais crime. A verdade é que não há nada em comum entre estes educadores, exceto que eles ensinam. Em suma, a única coisa que eles compartilham é a única coisa a qual professam ter aversão: a idéia geral de autoridade. É singular que as pessoas falem em separar dogma da educação. Dogma é realmente a única coisa que não pode ser separada da educação. Dogma é educação. Um professor que não seja dogmático é simplesmente um professor que não ensina.

Saturday, July 31, 2010

Como era a Missa em 155 d.C.

Hoje eu partilho com vocês um texto que me deixou maravilhada, primeiro porque nunca antes o tinha lido. Segundo, porque, para falar a verdade, não sei; só sei que fiquei embasbacada com as palavras e principalmente com a antiguidade do texto. E pensar que tem gente que sai por aí afirmando que a Eucaristia é apenas um símbolo. A tradução é minha.
E no dia chamado domingo,
todos que vivem nas cidades ou no campo,
se reúnem em um só lugar,
e lê-se as memórias dos apóstolos ou os escritos dos profetas
pelo tempo que for possível;
depois, quando a leitura é terminada,
o celebrante instrui verbalmente a imitação destas coisas boas.
Então, todos se levantam e oram juntos,
quando terminam oração, é trazido pão, vinho e água,
e o celebrante faz a oferta das orações e ações de graça,
de acordo com sua capacidade,
e o povo consente, dizendo Amém;
e se distribui a cada um,
uma parte daquilo sobre o qual foi feita ação de graças,
e aos ausentes se envia uma porção através dos diáconos.
E este alimento é chamado entre nós de
Εὐχαριστία [Eucaristia], 
do qual a ninguém é permitido partilhar
a não ser aqueles que crêem
serem verdadeiras as coisas que ensinamos,

e que foram lavados pela purificação
destinada ao perdão e remissão dos pecados,
e que vivem de acordo com a vontade de Cristo.
Pois não recebemos simplesmente pão e vinho;
mas Jesus Cristo nosso Salvador,
que feito homem pela Palavra de Deus,
assumiu carne e sangue para a nossa salvação,
e assim fomos ensinados
que o alimento abençoado pela oração da Sua palavra,
e pelo qual nosso corpo e sangue
são alimentados por transmutação,

é o corpo e o sangue deste Jesus feito homem.
Pois os apóstolos,
nas memórias escritas por eles,
que são chamadas de Evangelho,
passaram para nós o que lhes foi prescrito;
que Jesus tomou o pão,
e depois de dar graças, disse,
"Façam isso em memória de Mim,
este é o Meu corpo;
e, da mesma forma,
depois de tomar o cálice e dar graças, Ele disse,
"Este é o Meu sangue";
e deu-os somente a eles.
-- Justin Martyr, The First Apology 

Friday, July 30, 2010

Santo remédio

Gosto muito de Chesterton, muito embora algumas vezes eu não entenda certas referências que ele faz em seus textos. Isso se deve ao fato dele escrever sobre acontecimentos de sua época e de seu país dos quais eu não faço a menor idéia, um sinal de minha ignorância de certos fatos históricos. De qualquer forma, ele é sem sombra de dúvida uma mente brilhante e eu aprendo muito com ele. Mas desta vez ele não fala de sua época.

Partilho com vocês um pedacinho que tirei de seu livro sobre São Francisco e São Tomás de Aquino. Os destaques e os grifos são meus.

O Santo é um remédio porque ele é um antídoto. Na verdade, é por isso que o santo na maioria das vezes se torna um mártir; confundem-no com veneno porque ele é antídoto. Geralmente você o encontra restaurando a sanidade ao mundo por evidenciar exatamente aquilo que o mundo ignora, e que de forma alguma é sempre a mesma coisa em todas as épocas. E, mesmo assim, cada geração procura instintivamente pelo seu santo; e ele não é aquilo que as pessoas querem, mas ao contrário, aquilo que as pessoas precisam. Este é certamente o significado daquelas palavras aos primeiros santos: “vós sois o sal da terra”; mas foi tão mal compreendido que fez o ex-Kaiser dizer com toda solenidade que seus musculosos alemães eram o sal da terra; querendo com isso dizer que eles eram os mais musculosos da terra e portanto, os melhores. Mas o sal tempera e conserva a carne, não porque é igual `a carne; mas porque é bem diferente dela. Cristo não disse aos seus apóstolos que eles eram somente pessoas excelentes, nem que eram as únicas pessoas excelentes, mas que eram pessoas excepcionais; pessoas permanentemente incôngruas e incompatíves; e esse texto sobre o sal da terra é tão forte e azedo agudo como o sabor do sal. E é porque eles eram as pessoas excepcionais, que eles não podem perder sua qualidade excepcional. “Se o sal perde o sabor, com que lhe será restituído o sabor?” é uma pergunta muito mais justa do que uma reclamação sobre o preço da carne. Se o mundo se tornar mundano demais, a Igreja poderá repreendê-lo; mas se a Igreja se tornar mundana, o mundo não poderá repreender sua mundanidade de maneira adequada.

Tuesday, July 27, 2010

Imagine o Potencial

Thursday, July 22, 2010

Correção Fraterna

Esse texto transcrevi de um programa da rede de TV EWTN, The Best of Mother Angelica Live, uma reprise em 20-jul-2010 de um programa foi ao ar originalmente por volta de 1998, não tive como confirmar.

Pe Regis Scanlon, O.F.M. Cap., responde `a pergunta de uma telespectadora sobre o dever de se corrigir alguém que sabemos estar no erro.
Se conhecemos alguém que esteja fazendo isso (recebendo a Comunhão em estado de pecado mortal numa situação de matrimônio fora da Igreja e fazendo uso de método anticoncepcional), devemos chamar a atenção dessa pessoa ou devemos rezar por ela?
Primeiro você precisa rezar por ela. Tenha em mente que você só tem a obrigação de corrigir uma pessoa se você tiver autoridade sobre ela ou se você tiver razões para acreditar que ela fará aquilo que você disser.
Mas, se for apenas um tiro no escuro, algo sem previsão de resultado, então não existe obrigação de fazer a correcão. Você poderá fazê-lo como um ato de penitência para você, e você pode vir a receber essa penitência (na forma de discussões, desavenças). Mas é melhor rezar e fazer penitência indiretamente e permitir que Deus arrange uma situação na qual parta da pessoa levantar a questão com você, e deixar que Deus arrange a oportunidade para você fazer a correção.
Eu acredito veementemente que estamos falhando miseravelmente no uso do ato de caridade chamado correção fraterna, o qual a Igreja sugere que todos nós façamos durante a Quaresma. Creia-me, existe muita penitência associada a isso. Mas eu acredito que não estamos fazendo o suficiente.
Agora, se você é mãe então você tem a obrigação de corrigir seus filhos. O sacerdote tem obrigação - ou seja, se a pessoa tiver autoridade sobre a outra. E se você é um amigo íntimo e tem certeza de que a pessoa vai te ouvir, então você tem a obrigação de falar com a pessoa. Fora isso, não passa de um ato de penitência, que nós apoiamos mas você não está obrigado a fazê-lo.
Se devemos ou não, se seremos bem sucedidos ou não, dependerá do tanto de oração e penitência que você tiver investido. 
 
 
 

Tuesday, July 20, 2010

A Ratinha, o pássaro e a salsicha

Contos dos Irmãos Grimm

Certa vez uma ratinha, um pássaro e uma salsicha se associaram.

Havia muito tempo moravam como amigos na mesma casa e com isso haviam aumentado seus bens.

A tarefa do pássaro era ir `a floresta todos os dias buscar lenha. A da ratinha era carregar água, acender o fogo e pôr a mesa, enquanto a da salsicha era cozinhar.

Quem está bem de vida sempre deseja uma coisa nova.

Um dia o pássaro encontrou um amigo e disse para ele como sua situação era confortável.

Mas o outro pássaro o repreendeu e chamou-o de coitadinho, dizendo que ele fazia todo o trabalho enquanto os outros dois, a ratinha e a salsicha, levavam vida mansa.

A ratinha depois que acendia o fogo e carregava a água se retirava para o seu quartinho para descansar, até que a chamassem para pôr a mesa.

A salsicha tinha apenas de se postar junto ao fogão e cuidar para que a comida cozinhasse direito. Quando estava quase na hora do almoço, ela mergulhava a si mesma umas duas vezes no caldo e nos legumes que em seguida eram passados na manteiga e temperados, prontos para serem servidos.

Então o pássaro chegava em casa, descarregava os gravetos e todos se sentavam `a mesa para comer; depois da refeição dormiam o quanto queriam até de manhã.

Era de fato uma vida prazerosa.

Um dia, instigado pelo amigo, o pássaro se recusou a ir buscar mais lenha dizendo que já fora escravo tempo bastante e que os parceiros tinham-no feito de bobo. Precisavam agora fazer mudanças e tentar um novo acordo.

Apesar das fervorosas súplicas da ratinha e da salsicha, fizeram a vontade do pássaro. Decidiram tirar a sorte e a salsicha ganhou a tarefa de carregar a lenha. A ratinha tornou-se cozinheira e o pássaro passou a ir buscar a água.

Qual foi o resultado?

A salsicha foi `a floresta, o pássaro acendeu o fogo, enquanto a ratinha pôs o tacho para ferver e esperou sozinha a salsicha chegar em casa trazendo a lenha para o dia seguinte.

Mas a salsicha ficou tanto tempo fora que os outros dois suspeitaram que alguma coisa ruim lhe acontecera, e o pássaro saiu voando para olhar do alto na esperança de encontrá-la.

Não muito longe dali ele deparou com um cão que encontrara a pobre salsicha e a atacara como caça legítima, dominara-a e rapidamente a engolira.

O pássaro reclamou amargamente com o cachorro por esse roubo descarado, mas não adiantou, pois o cão alegou que encontrara documentos forjados com a salsicha, e por isso ela não pertencia a ninguém.

O pássaro apanhou a lenha e voltou triste para casa contando o que vira e ouvira.

Ele e a ratinha ficaram muito zangados, mas decididos a fazer o possível para continuar juntos.

Então o pássaro pôs a mesa e a ratinha preparou o almoço.

Ela tentou cozinhar a comida e, como a salsicha, mergulhou no caldo de legumes para lhe dar sabor.

Mas antes que pudesse se misturar totalmente no caldo, perdeu os pêlos, a pele e a vida.

Quando o pássaro voltou e quis servir a refeição, não havia cozinheira `a vista.

O pássaro agitado atirou a lenha para um lado, chamou e procurou por toda parte, mas não conseguiu encontrar a cozinheira.

Então, por descuido seu, a lenha pegou fogo e provocou um incêndio.

O pássaro correu a buscar água, mas o balde caiu dentro do poço e o levou junto; ele não conseguiu tomar pé e com isso se afogou.

FIM

Moral da estória: ninguém pode fazer o seu trabalho a não ser você mesmo.

Thursday, April 29, 2010

Testemunhas digitais

Benedict XVI addresses participants at a Congress on the digital world 

Let us set sail on the "digital sea'

On Saturday morning, 24 April, in the Paul vi Audience Hall, the Holy Father spoke to participants at the end of a Congress on "Testimoni digitali. Volti e linguaggi nell'era crossmediale" [Digital Witnesses. Faces and Languages in the Cross-Media Age] organized by the Italian Episcopal Conference (cei), encouraging them, despite the dangers, to make the most of the new digital world. The Holy Father reassured those present that "the world of the media is fully part of pastoral planning". The following is a translation of the Holy Father's Address, which was given in Italian.
Your Eminence,
Venerable Brothers in the Episcopate,
Dear Friends, 
I am glad of this occasion to meet you and to conclude your Congress that has a particularly evocative title:  "Digital Witnesses:  Faces and Languages in the Cross-Media Age". 
I thank Cardinal Angelo Bagnasco, President of the Italian Episcopal Conference, for his cordial words of welcome with which, once again, he has wished to express the affection and closeness to my apostolic service of the Church in Italy. Your words, Your Eminence, mirror the faithful adherence to Peter of all the Catholics of this beloved nation and the esteem of so many men and women motivated by the desire to seek the truth. 
The present time is experiencing an enormous expansion of the frontiers of communication, bringing about an unheard of convergence among the different mediaand making interactivity possible. The internet is therefore revealing a vocation that is open, basically egalitarian and pluralist but at the same time it is creating a new boundary:  indeed, people are talking about the digital divide. 
This divide separates the included from the excluded and adds to the other discrepancies that are already distancing nations from one another and dividing them from within. 
The dangers of standardization and control, of intellectual and moral relativism, already clearly recognizable in the erosion of the critical spirit, the subordination of truth to the play of opinions, the multiple forms of degradation and humiliation of the person's intimacy. 
We are therefore witnessing a "pollution of the spirit; it makes us smile less, makes our faces gloomier, less likely to greet each other or look each other in the eye" (Address for the Immaculate Conception, Piazza di Spagna, 8 December 2009; L'Osservatore Romano English edition, [ore] 9 December 2009, p. 3). 
This Congress, on the other hand aims precisely to focus on faces, hence to surmount those collective dynamics that can cause us to lose our perception of the depths of the person by stopping at appearances. When this happens, people are left as bodies without a soul, objects of exchange and consumption. 
How is it possible to focus anew on the face? I have also tried to point out the way in my third Encyclical. It passes through that caritas in veritate, which shines out in Christ's Face. Love of truth is "a great challenge for the Church in a world that is becoming progressively and pervasively globalized" (n. 9). 
The media can become factors of humanization, "not only when, thanks to their technological development, they increase the possibilities of communicating information, but above all when they are geared towards a vision of the person and the common good that reflects truly universal values" (n. 73). 
This requires that they "focus on promoting the dignity of persons and peoples, they need to be clearly inspired by charity and placed at the service of truth, of the good, and of natural and supernatural fraternity" (ibid.). 
Only on these conditions can the epochal change we are passing through be fruitful and rich in new opportunities. 
Let us set sail on the digital sea fearlessly, confronting open navigation with the same enthusiasm that has steered the Barque of the Church for 2,000 years. Rather than for technical resources, although these are necessary, let us also qualify ourselves by dwelling in this world with a believing heart that helps to give a soul to the ceaseless flow of communications that makes up the web. 
This is our mission, the inalienable mission of the Church. Every believer who works in the media has a "special responsibility for opening the door to new forms of encounter, maintaining the quality of human interacti0n and showing concern for individuals and their genuine spiritual needs. They can thus help the men and women of our digital age to sense the Lord's presence" (Message for the 44th World Day of Social Communications, 16 May 2010, 24 January; ORE 27 January, p. 3). 
Dear friends, you are also called to post yourselves on the web as "leaders of communities", attentive to "preparing ways that lead to the word of God" and showing special sensitivity to "the disheartened and those who have a deep, unarticulated desire for enduring truth and the absolute" (ibid.). The web can thus become a sort of "Court of the Gentiles", "offering a space... for those who have not yet come to know God" (ibid.). 
As leaders of the world of culture and communications, you are a vital sign that "Church communities have always used the modern media for fostering communication, engagement with society, and, increasingly, for encouraging dialogue at a wider level" (ibid.). 
In Italy, voices in this field are not lacking. It suffices here to recall the daily Avvenire, the television broadcasting station TV2000, the radiophonic circuit inBlu, and the press agency SIR, alongside the Catholic periodicals, the diocesan weeklies and the now numerous websites of Catholic inspiration. 
I urge all professionals in communications never to tire of nourishing in their hearts that healthy passion for man which seeks to draw ever closer to his many languages and to his true face. 
A sound theological training will help you in this and, especially, a profound and joyful passion for God, fostered by continuous exchanges with the Lord. The particular Churches and religious institutes, for their part, should not hesitate to make the most of the formation courses offered by the Pontifical universities, by the Catholic University of the Sacred Heart and by the other Catholic and ecclesiastical universities, earmarking for them, with foresight, people and resources. The world of the media is fully part of pastoral planning. 
As I thank you for the service you offer to the Church and thus to the human cause, I urge you, enlivened by the courage of the Holy Spirit, to set out on the highways of the digital continent. 
Our trust is not a-critically placed in any one technical instrument. Our efforts consist in being Church, a believing community that can witness to all to the perennial newness of the Risen One, with a life that flourishes in fullness to the extent that it is open, enters into relationships and is freely given. 
I entrust you to the protection of Mary Most Holy and of the great Saints of communications and I cordially bless you all. 

(©L'Osservatore Romano - 28 april 2010)

Monday, April 5, 2010

Na medida de suas possibilidades

Dos Comentários sobre o livro de Jó, de São Gregório Magno, papa

(Lib. 13,21-23: PL75,1028-1029)m(Séc.VI)

O mistério da nossa vida nova
O bem-aventurado Jó, como figura da santa Igreja, ora fala em nome do corpo, ora em nome da cabeça. Mas, às vezes, ocorre que, quando fala dos membros, toma subitamente as palavras da cabeça. Eis por que diz: Sofri tudo isso, embora não haja violência em minhas mãos e minha oração seja pura(Jó 16,17).

Sem haver violência alguma em suas mãos, teve também que sofrer aquele que não cometeu pecado e em cuja boca não se encontrou falsidade; no entanto, pela nossa salvação, suportou o tormento da cruz. Foi ele o único que elevou a Deus uma oração pura, pois mesmo em meio aos sofrimentos da paixão orou por seus perseguidores, dizendo: Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem! (Lc 23,34).

Quem poderá dizer ou pensar uma oração mais pura do que esta em que se pede misericórdia por aqueles mesmos que infligem a dor? Por isso, o sangue de nosso Redentor, derramado pela crueldade dos perseguidores,se transformou depois em bebida de salvação para os que nele acreditariam e o proclamariam Filho de Deus.

Acerca deste sangue, continua com razão o texto sagrado: Ó terra, não cubras o meu sangue, nem sufoques o meu clamor (Jó 16,18). E ao homem pecador foi dito: És pó e ao pó hás de voltar (Gn 3,19).

A terra, de fato, não ocultou o sangue de nosso Redentor, pois qualquer pecador, ao beber o preço de sua redenção, o proclama e louva e, como pode, o manifesta aos outros.

A terra não cobriu também o seu sangue porque a santa Igreja já anunciou em todas as partes do mundo o mistério de sua redenção.

Notemos no que se diz a seguir: Nem sufoques meu clamor. O próprio sangue da redenção, por nós bebido, é o clamor de nosso Redentor. Por isso diz também Paulo: Vós vos aproximastes da aspersão do sangue mais eloqüente que o de Abel (Hb 12,24). E do sangue de Abel fora dito: A voz do sangue de teu irmão está clamando da terra por mim (Gn 4,10).

O sangue de Jesus é mais eloqüente que o de Abel, porque o sangue de Abel pedia a morte do irmão fratricida, ao passo que o sangue do Senhor obteve a vida para seus perseguidores.

Assim, para que não nos seja inútil o sacramento da paixão do Senhor, devemos imitar aquilo que recebemos e anunciar aos outros o que veneramos.

O clamor de Cristo fica sufocado em nós, se a língua não proclama aquilo em que o coração acredita. Para que esse clamor não seja sufocado em nós, é preciso que, na medida de suas possibilidades, cada um manifeste aos outros o mistério de sua vida nova.

Friday, April 2, 2010

Bagagem desnecessaria

texto de Pe Thomas M. Santa, C.S.R., (jan/2000)
a tradução é minha.

Viajantes experientes carregam muito pouco na bagagem. Um rápido olhar pelas pessoas que estão para entrar `a bordo de um avião no portão de embarque e pode-se facilmente identificar quem viaja com frequência e quem viaja de vez em quando. O viajante tarimbado carrega só o que precisa. O viajante esporádico quase sempre carrega de tudo, por não saber o que esperar, e por não acreditar que o básico que possa eventualmente precisar poderá ser facilmente obtido, mesmo no destino mais exótico.

A experiência é a razão principal do viajante tarimbado carregar somente aquilo que é necessário. Não precisa muitas viagens para perceber que não é nenhuma diversão arrastar um monte de bagagem pelo aeroporto, ou, pior ainda, tentar empurrar isso para debaixo do acento `a sua frente ou no bagageiro superior. Finalmente, depois de alguns contratempos, o viajante aprende a por na bagagem e carregar somente aquilo que é necessário.

O viajante acostumado também percebe que é impossível estar absolutamente preparado para qualquer ocasião possível; sem dúvida, haverá ocasiões quando se precisa de algo fora do comum. Porém, o viajante acostumado se dá permissão de lidar com estas ocasiões quando elas vierem a acontecer, e a fazer o melhor que puder numa situação dessas.

Todos nós somos viajantes na jornada da vida, e na vida, como em toda viagem, é preciso carregar uma certa quantidade de bagagem. A chave para a felicidade na vida, como a chave para a felicidade em qualquer viagem, é saber determinar o que é absolutamente necessário carregar na bagagem, e o que pode ser deixado para trás. Se isso não for feito, o viajante acaba carregando tudo o que acumulou na vida e a viagem acaba se tornando desagradável. Da mesma forma que observamos viajantes super cansados arrastando suas malas no aeroporto, também podemos observar pessoas de aparência muito cansada na vida, arrastando uma bagagem desnecessária pela vida afora.

Que tipo de bagagem é necessária para a jornada da vida e que tipo de bagagem pode ser deixada para trás? Saber determinar aquilo que é necessário daquilo que não é faz toda a diferença no mundo.

A bagagem necessária para a jornada da vida inclui o entendimento saudável sobre Deus, apreciação pela família e pelos amigos que te amam e te apoiam, o uso respeitoso dos seus dons e aptidões únicos, a capacidade de amar e afirmar as outras pessoas, a capacidade de dar graças por tudo que se recebeu, e um senso de temor e admiração para com Deus e sua criação. Você vai perceber que, se você colocar esse tipo de bagagem na sua mala, sua jornada será abençoada e fecunda, a vida será uma jornada incrível a ser celebrada, e não será um fardo pesado.

Bagagem desnecessária, do tipo que se arrasta, que limita a capacidade da pessoa se alegrar e celebrar a jornada da vida, inclui: uma idéia de Deus como um perfecionista implacável com desejo de punir sempre; membros da sua família (vivos ou mortos) que não são fonte de afirmação e amor para você; uma postura na vida que é pessimista e desconfiada; rigidez; ansiedade; um sentimento paralisante de culpa e medo que leva à depressão; e por fim, lembranças dolorosas que são revividas continuamente. Este tipo de bagagem, que se carrega obedientemente consigo não importa onde, garante que a vida não será celebrada, e que será, na melhor das hipóteses, apenas suportada. Uma vida sobrecarreda com esse tipo de peso é uma vida que não pode ser vivida -- mas é uma vida que se arrasta, dia após dia, até que chega ao fim.

Se você percebe que está carregando uma bagagem da qual não precisa e que só se arrasta atrás de si, existe algo que possa ser feito para remediar isso? Você só precisa de três passos para começar a se livrar dessa bagagem extra.

O primeiro passo é cumprimentar-se por reconhecer o fato de que você está carregando uma mala que não precisa ser carregada. Algumas pessoas nunca chegam a essa conclusão e são incapazes de fazer qualquer coisa sobre isso. Agradeça pelo fato de você ter reconhecido essa situação.

O segundo passo é reconhecer que é difícil, ou mesmo impossível, conseguir se desfazer daquilo que não é necessário por si mesmo. Se você soubesse o que é preciso nessa caminhada da vida, em primeiro lugar, você não teria colocado o desnecessário na sua mala! Não é sinal de fraqueza, mas sim um sinal do seu desejo de cooperar com o dom da graça de Deus, buscar e pedir a ajuda que precisa.

O terceiro passo é fazer isso concretamente, é buscar e pedir ajuda, e isso `as vezes é muito difícil. A vergonha faz muitas pessoas resistirem quando se encontram numa situação em que precisam sair de si mesmos. Ainda um outro sentimento é o sentimento de frustração: "onde eu vou e para quem eu peço?" Talvez seja este o ponto que esteja causando o maior obstáculo.

Um bom começo para descobrir o que você precisa fazer seria discutir seus cuidados e suas preocupações com seu confessor e/ou diretor espiritual. Caso eles não tenham o conhecimento necessário para ajudá-lo numa área determinada, eles poderão indicar alguém que possa. Se você não tem um diretor espiritual ou confessor, você pode pedir a um amigo, que você julgue competente e atencioso, por algum tipo de ajuda ou então marque uma consulta com o seu pároco ou um membro de uma pastoral. Na verdade, não importa por onde você começa, o que é importante é que você tome o primeiro passo.

Monday, March 29, 2010

A crise do sacerdote

Terceira pregação do padre Cantalamessa para a Quaresma 2010
CIDADE DO VATICANO, sexta-feira, 26 de março de 2010 ZENIT.org – Apresentamos a terceira e última pregação de Quaresma que o padre Raniero Cantalamessa, OFM Cap., proferiu na manhã desta sexta-feira na capela Redemptoris Mater, na presença de Bento XVI e seus colaboradores da Cúria Romana.
O tema das meditações deste ano é “Dispensadores dos mistérios de Deus. O sacerdote, ministro da Palavra e dos sacramentos”, em continuidade com as reflexões sobre o ministério episcopal e presbiterial iniciadas no Advento. As pregações precedentes foram pronunciadas nos dias 5 e 12 de março.

1. A crise do sacerdote
Na Escritura encontramos a descrição da crise interior de sacerdote, na qual muitos pastores de hoje, tenho certeza, se reconhecerão. É aquela de Jeremias, que, antes de se tornar um profeta, foi sacerdote, “um dos sacerdotes de Anatot” (Jer 1,1).
“Sim, Senhor, juro que sempre te servi em vista do bem, que nas horas de sofrimento e nos momentos de angústia, sempre intercedi por quem me odeia... Não me sento na roda dos gozadores, sigo em frente. Consciente da tua mão eu me assento, solitário, pois tu me encheste da tua indignação. Por que minha dor se fez permanente e minha ferida, incurável, sem remédio? Tu bem me pareces um córrego falso, água de mentira.” Em outro trecho, a crise irrompe de maneira ainda mais aberta: “Tu me seduziste, Senhor, e eu me deixei seduzir! Foste mais forte do que eu e me subjugaste!... Pensei: “Nunca mais hei de lembrá-lo, não falo mais em seu nome!” (Jer 20, 7-9).
Qual é a resposta de Deus ao profeta em crise? Não é um “pobrezinho, tens razão, como és infeliz!”. “Por isso, assim me respondeu o Senhor: “Se tu te converteres, eu te converterei, e na minha presença ficarás. E se souberes separar o que tem valor daquilo que não presta, serás a minha boca” (Ger 15, 19). Em outras palavras: conversão!
Falando da novidade do ministério da nova aliança, vimos que esta consiste na graça, isto é, no fato de que o dom precede o dever, e que o dever advém precisamente do dom. Apliquemos, portanto, este princípio fundamental ao ministério sacerdotal. Aquilo que até então consideramos constitutivo da graça sacerdotal, o dom recebido: ministros de Cristo, dispensadores dos mistérios de Deus. Não podemos concluir nossas reflexões sem esclarecer o dever e o apelo que advém deste dom, por assim dizer, a ex opere operantis do sacerdócio. Tal apelo é o mesmo daquele feito por Deus a Jeremias: conversão!
Acredito interpretar as preocupações expressas em diversas ocasiões pelo Santo Padre, e que motivaram, ao menos em parte, a proclamação deste ano sacerdotal, dedicando esta última meditação à necessidade de uma purificação no interior da Igreja, a começar pelo clero.
O apelo à conversão ressoa nos momentos cruciais do Novo Testamento: no início da pregação de Jesus: “Convertei-vos e crede na Boa Nova” (Mc 1,15); no início da pregação apostóloca, o dia de Pentecostes: “ficaram com o coração compungido e perguntaram a Pedro e aos outros apóstolos: “Irmãos, que devemos fazer? E Pedro respondeu: “Convertei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para o perdão dos vossos pecados. E recebereis o dom do Espírito Santo!” (At 2, 37).
Mas não são estes os contextos que dizem respeito mais diretamente a nós sacerdotes. Nós acreditamos no Evangelho, fomos batizados e recebemos o Espírito Santo. Há um outro “convertei-vos” que nos diz respeito de perto, aquele que ressoa no interior de cada uma das sete cartas às igrejas do Apocalipse. Esse não é direcionado aos não crentes ou aos neófitos, mas às pessoas que vivem há tempo na comunidade cristã.
Um dado torna estas cartas particularmente significativas para nós: foram dirigidas ao pastor e ao responsável por cada uma destas sete igrejas. “Ao anjo da igreja de Éfeso escreva”: não se explica o título anjo a não ser que este se refira, de modo direto ou indireto, ao pastor da comunidade. Não se pode pensar que o Espírito Santo atribua a anjos reais a responsabilidade pelas culpas e pelos desvios ocorridos nas diversas igrejas, e que o convite à conversão seja a eles dirigido.
2. “Seja fiel até o final”
Retomemos a leitura de algumas destas cartas, buscando nelas colher os elementos de uma autêntica conversão do clero, diáconos, sacerdotes e bispos. Comecemos com a primeira carta, aquela endereçada à igreja de Éfeso. Notemos uma coisa primeiramente. O Ressuscitado não inicia seu discurso falando sobre o que não vai bem na comunidade. Esta carta, como quase todas as demais, começa por destacar os aspectos positivos, o bem que se faz na igreja: “Conheço a tua conduta, o teu esforço e a tua constância; és perseverante. Sofreste por causa do meu nome e não desanimaste” (Ap 2, 2). Somente neste ponto intervém o apelo à conversão: “Mas tenho contra ti que abandonaste o teu primeiro amor. Lembra-te de onde caíste! Converte-te (metanoeson) e volta à tua prática inicial”.
O apelo à conversão assume a conotação de um retorno ao primitivo fervor e amor por Cristo. Quem de nós, sacerdotes, não lembra com comoção do momento em que tomamos consciência de estarmos sendo chamados por Deus para servi-lo, o momento da profissão para os religiosos, o entusiasmo dos primeiros anos de ministério como sacerdotes? É verdade que há também o fator da idade, a juventude. Mas neste caso, não se trata da natureza: o que foi graça no passado pode ser graça ainda hoje.
“Quero exortar-te”, escrevia o apóstolo ao discípulo Timóteo, “a reavivar o carisma que Deus te concedeu pela imposição de minhas mãos” (2 Tim 1,6). O termo grego que aqui foi traduzido como “reavivar” sugere a ideia de assoprar sobre brasas para que voltem a arder, reacender a chama. Em uma das meditações do Advento, vimos como a unção sacramental, recebida na ordenação, pode voltar à atividade mediante a oração e um sobressalto de fé. Também o autor da carta aos Hebreus chamava os primeiros cristãos a resgatarem seu entusiasmo inicial: “Sê fiel até à morte, e eu te darei a coroa da vida”.
Da carta à Igreja de Éfeso tomamos portanto o convite urgente a um reencontro do amor e do fervor de um tempo. Um outro componente da conversão sacerdotal podemos encontrar na carta à igreja de Esmirna. Também aqui o Ressuscitado começa destacando o que é positivo: “Conheço sua tribulação, sua pobreza...”, mas segue de imediato o apelo: “Sê fiel até à morte, e eu te darei a coroa da vida”.
Fidelidade! O Santo Padre usou esta palavra como título e programa do ano sacerdotal: “Fidelidade de Cristo, fidelidade de sacerdote”. A palavra fidelidade tem dois significados fundamentais. O primeiro é o de constância e perseverança; o segundo é o de lealdade, retidão, o oposto, em suma, de infidelidade, perfídia e traição. O primeiro significado é aquele presente nas palavras do Ressuscitado dirigidas à igreja de Esmirna; o segundo é aquele que consta nas palavras de Paulo que escolhemos para guiar nossas reflexões: “Que as pessoas nos considerem como ministros de Cristo e administradores dos mistérios de Deus. Ora, o que se exige dos administradores é que cada um se mostre fiel” (1 Cor 4, 1-2). Estas palavras remetem, talvez propositalmente, àquelas de Jesus no Evangelho de Lucas: “Quem é o administrador fiel e atento, que o senhor encarregará de dar à criadagem a ração de trigo na hora certa?” (Lc 12, 42). O contrário desta fidelidade está naquilo que faz, na parábola, o administrador infiel (Lc 16, 1 ss.).
A esta fidelidade se opõe a traição da confiança depositada por Cristo e pela Igreja, a vida dupla, o pouco caso para com os deveres de sua condição, especialmente no que se refere ao celibato e à castidade. Sabemos por dolorosa experiência quanto dano pode ser provocado à Igreja e às almas com este tipo de infidelidade. Esta talvez seja a mais dura provação enfrentada pela Igreja neste momento.
3. "À igreja de Laodicéia escreve..."
A carta que deve nos fazer refletir, mais do que todas as outras, é aquela ao anjo da igreja de Laodicéia. Conhecemos seu tom severo: “Conheço a tua conduta. Não és frio, nem quente. Oxalá fosses frio ou quente... Mas, porque és morno, nem frio nem quente, estou para vomitar-te de minha boca... Esforça-te, pois, e converte-te” (Ap 3, 15 s).
A tepidez de uma parte do clero, a falta de zelo e a inércia apostólica: creio sejam estes os principais fatores que enfraquecem a Igreja, ainda mais que os escândalos ocasionais de alguns sacerdotes, que chamam mais atenção e são mais fáceis de reparar. “A grande desventura para nós párocos – dizia Santo Cura d'Ars – "é quando a alma se entorpece” [1]. Ele certamente não se incluía entre estes párocos, mas esta sua frase nos faz pensar.
Não se deve generalizar (a Igreja é rica de sacerdotes santos que cumprem silenciosamente seu dever), mas igualmente não podemos nos calar. Um leigo comprometido me disse certa vez com tristeza: “A população de nosso país, nos últimos anos, cresceu em mais de 3 milhões de habitantes, mas nós, católicos, estacionamos no número de antes. Algo não vai bem em nossa Igreja”. E, conhecendo aquele clero, eu sabia o que não ia bem: a preocupação de muitos deles não eram as almas, mas o dinheiro e o conforto.
Há lugares onde a Igreja permanece viva e evangeliza quase que unicamente pelo empenho de alguns fiéis leigos e organizações leigas, que por sua vez são vistos com desconfiança. São eles que com frequência motivam os sacerdotes, pagando suas despesas, a participarem de um retiro ou de exercícios espirituais, algo que não fariam por iniciativa própria jamais.
Por vezes, são justamente aqueles que menos fazem pelo Reino de Deus que mais reclamam suas vantagens. São Pedro e São Paulo sentiram ambos a necessidade de alertar contra a tentação de se comportar como amos da fé: “sede pastores do rebanho de Deus, confiado a vós... não como dominadores daqueles que vos foram confiados, mas antes, como modelos do rebanho” (cf. 1 Pt 5,3), escreve o primeiro. “Não temos a pretensão de dominar a vossa fé; mas o que queremos é colaborar para a vossa alegria”, escreve o segundo (2 Cor 1, 24).
Comportam-se como donos da fé, por exemplo, quando se consideram todos os espaços da paróquia como sua propriedade, cedidos a quem se quer, ao invés de bens pertencentes a toda comunidade, dos quais se tem a custódia, não a propriedade. Estando a pregar em um país europeu que já foi no passado celeiro de sacerdotes e missionários e que agora atravessa uma crise profunda, perguntei a um sacerdote local qual seria, a seu ver, a causa disso. “Neste país, respondeu-me, os sacerdotes, do púlpito e desde o confessionário, decidiam tudo, até quem alguém deveria desposar e quantos filhos deveria ter. Quando se difundiu na sociedade o sentimento e a exigência por liberdade individual, as pessoas se rebeleram e deram as costas à Igreja”. O clero se sentia "dono da fé", ao invés de colaborador da alegria das pessoas.
As palavras dirigidas pelo Ressuscitado à Igreja de Laodicéia: “Tu dizes: ‘Sou rico e abastado e não careço de nada’, em vez de reconhecer que és infeliz, miserável, pobre, cego e nu”, fazem pensar em uma outra tentação para o clero quando a paixão pelas almas é colocada em segundo plano: a cobiça de dinheiro. São Paulo já lamentava amargamente: "Omnia quae sua sunt quaerunt, non quae Jesu Christi": todos buscam o próprio interesse, não aquele de Cristo (Fil 2, 21). Dentre as recomendações mais insistentes aos anciãos, nas Cartas pastorais, está a de não ser cobiçoso (1 Tim 3, 3). Na carta de promulgação do ano sacerdotal, o Santo Padre apresenta o Santo Cura d'Ars como modelo de pobreza sacerdotal. “Ele era rico para doar aos outros e muito pobre para si mesmo”. Seu segredo era: “dar tudo e não reter nada”.
Em seu longo discurso sobre os pastores [2], Santo Agostinho propunha aos de seu tempo, como um exercício salutar de consciência, a apóstrofe de Ezequiel contra os pastores negligentes. Não seria inadequado lembrá-la, ao menos para sabermos o que deve ser evitado no ministério sacerdotal: “Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos! Acaso os pastores não devem apascentar as ovelhas? Comeis de seu leite, vestis sua lã e matais os animais gordos, mas não apascentais as ovelhas. Não fortalecestes a ovelha fraca, não curastes a ovelha doente nem enfaixastes a ovelha quebrada. Não trouxestes de volta a ovelha desgarrada, não procurastes a ovelha perdida, mas as dominastes com dureza e brutalidade” (Ez 34, 2-4).
4. “Eis que estou à porta e bato”
Mas também a severa Carta à igreja de Laodicéia é, como todas as outras, uma carta de amor. Esta termina com uma das imagens mais tocantes de toda a Bíblia: “Eu repreendo e educo os que eu amo... Eis que estou à porta e bato”.
Em nós, sacerdotes, Cristo não bate para entrar, e sim para sair. Quando se trata da primeira conversão, da incredulidade frente à fé, ou da condição de pecado ante a graça, Cristo está fora e bate às portas do coração para entrar; quando se trata de sucessivas conversões, de um estado de graça em direção a outro mais elevado, da tepidez ao fervor, ocorre o contrário: Cristo está dentro e bate às portas do coração para sair!
Explico em que sentido. No batismo, recebemos o Espírito de Cristo; este permanece em nós como seu templo (1 Cor 3,16), se não for expulso pelo pecado mortal. Mas pode ocorrer que este Espírito acabe por se tornar com que um prisioneiro de um coração de pedra que se forma ao seu redor. Não tem possibilidade de se expandir, permeando as faculdades, as ações e os sentimentos dessa pessoa. Quando lemos a frase de Cristo “Eis que estou à porta e bato” (Ap 3, 20), devemos entender que ele não bate do lado de fora, mas de dentro; não quer entrar, mas sair.
O Apóstolo diz que Cristo deve ser “formado” em nós (Gal 4, 19), isto é, desenvolver-se e receber sua forma plena; é este desenvolvimento que é bloqueado pela tepidez e pelo coração de pedra. Por vezes, se vê ao lado das estradas grandes árvores, cujas raízes, aprisionadas pelo asfalto, lutam para se expandir, erguendo partes do pavimento. Assim devemos imaginar o Reino de Deus no coração do homem; uma semente destinada a se tornar uma árvore majestosa, sobre a qual pousam os pássaros do céu, mas que tem dificuldade de se desenvolver quando é sufocada pelas preocupações terrenas.
Ocorrem, obviamente, diferentes graus desta situação. Na maioria das almas empenhadas em um caminho espiritual, Cristo não se encontra aprisionado dentro de uma couraça, mas talvez, por assim dizer, em uma ‘liberdade vigiada’. É livre para mover-se, mas dentro de limites bem precisos. Isto ocorre quando tacitamente se faz compreender aquilo que pode nos pedir e aquilo que não pode nos pedir. Orações sim, mas não a ponto comprometer o sono, o repouso a informação sadia...; obediência sim, mas que não abuse de nossa disponibilidade; castidade sim, mas não ponto de nos privar de qualquer espetáculo descontraído... em suma, o uso de meias medidas.
Na história da santidade, o exemplo mais famoso da primeira conversão, aquela de um estado de pecado ao da graça, é o de Santo Agostinho; o exemplo mais instrutivo da segunda conversão, a da tepidez ao fervor, é o de Santa Teresa d'Avila. Aquilo que ela diz sobre si mesma na Vida é provavelmente exagerado e ditado pela delicadeza de sua consciência, mas pode servir a todos nós para um útil exame de consciência. “De passatempo a passatempo, de vaidade a vaidade, de ocasião a ocasião, comecei a colocar minha alma novamente em perigo [...]. As coisas de Deus me davam prazer, mas não sabia me desvincular daquelas do mundo. Queria conciliar estes dois inimigos, tão contraditórios entre si: a vida do espírito com os sabores e passatempos dos sentidos”.
O resultado dessa condição era uma profunda infelicidade: “Caía e me reerguia, e mal me reerguia voltava a cair. Era tão baixa em termos de perfeição que quase não me dava conta dos pecados venais, e não temia os mortais como deveria, porque não evitava os perigos. Posso dizer que a minha vida era das mais penosas que se poderia imaginar, porque não gozava de Deus, nem me sentia satisfeita com o mundo. Quando me dedicava aos passatempos mundanos, o pensamento acerca daquilo que devia a Deus me fazia transcorrer com pesar; e quando estava com Deus, os afetos do mundo me perturbavam” [3]. Muitos sacerdotes poderiam descobrir nesta análise a razão profunda de sua insatisfação e descontentamento.
Foi a contemplação do Cristo da paixão que deu a Teresa o impulso decisivo que fez dela a santa e mística que conhecemos [4].
5. “Quero esperar!”
Voltemos, para encerrar, à resposta de Deus aos lamentos de Jeremias. Deus faz a seu profeta convertido promessas que adquirem um significado muito particular quando lidas como se fossem dirigidas a nós, sacerdotes da Igreja Católica, no momento atual de desconforto que atravessamos: “Se souberes separar o que tem valor daquilo que não presta”, isto é, se souberes distinguir aquilo que é essencial daquilo que é secundário em tua vida, se preferires minha aprovação ao invés da dos homens; “tu serás como a minha boca”. “Eles passarão para o teu lado e tu não passarás para o lado deles”: será o mundo que buscará teu favor, não tu ao do mundo. “Farei que sejas um muro forte, de bronze (estes dizeres dirigem-se agora ao Santo Padre); vão guerrear contra ti, mas não te vencerão, pois contigo eu estarei para te salvar e livrar” (Jer 15, 19-20).
O que precisamos neste momento é de um impulso de esperança; devemos voltar a ler a encíclica “Spe salvi sumus”, de nosso Santo Padre. A Escritura nos apresenta diversos exemplos de impulsos de esperança, mas um me parece particularmente instrutivo e apropriado para a situação atual: a Terceira Lamentação de Jeremias. Começa num tom desconsolado: “Alguém eu sou que viu a miséria, sob a vara de sua ira. A mim ele levou e fez andar nas trevas, não na luz... Tornei-me escárnio do meu povo, objeto constante de suas canções. Falei: “Terminou meu prestígio, desiludi-me do Senhor!” (Lam III, 1-18).
Mas neste ponto, é como se o profeta fizesse uma reavaliação repentina; diz a si mesmo: “É graças ao Senhor que não fomos aniquilados, porque não se esgotou sua piedade. Há bondade no SENHOR, sem fim, misericórdia que não acaba! Cada manhã ele se manifesta e grande é sua fidelidade. Disse-me a alma: o Senhor é minha partilha, e assim nele confio.”
E a partir do momento que toma a decisão - “Quero esperar”, o tom se altera, e da triste lamentação, converte-se em confiante espera de restauração: “O Senhor é bom para quem nele confia, para a alma que o procura. Bom é esperar em silêncio o socorro do Senhor. Estenda a face a quem o fere, e se farte de opróbrios! Porque o Senhor não repele para sempre. Após haver afligido, ele tem piedade, porque é grande sua misericórdia. Não lhe alegra o coração humilhar e afligir os homens” (Lam III, 22-33).
Estava a pregar em um retiro para o clero de uma diocese americana, abalada pela reação indiscriminada da opinião pública diante dos escândalos cometidos por alguns de seus membros. Foi logo após a queda das Torres Gêmeas, e os escombros materiais pareciam um símbolo de outros escombros. Este texto da Escritura contribuiu visivelmente para o restabelecimento da confiança e da esperança de muitos.
Cristo sofre mais do que nós com a humilhação de seus sacerdotes e com a aflição de sua Igreja; se a permite, é por que sabe o bem que dali pode brotar, em vista de uma maior pureza de sua Igreja. Se houver humildade, a Igreja sairá mais esplendorosa que nunca desta guerra!
A fúria da mídia – que podemos ver também em outros casos - no longo prazo teve o efeito oposto daquele desejado. O convite de Cristo: “Vinde a mim, todos vós que estais cansados e carregados de fardos, e eu vos darei descanso” era dirigido, em primeiro lugar, aos que lhe estavam próximos, e hoje aos seus sacerdotes. “Vinde a mim e eu vos darei descanso”: o fruto mais belo deste ano sacerdotal será um retorno a Cristo, uma renovação de nossa amizade com ele. Em seu amor, o sacerdote encontrará tudo aquilo do qual se privou humanamente e “cem vezes mais”, segundo sua promessa.
Transformemos então o protesto inicial de Jeremias em agradecimento: “Obrigado, Senhor por um dia nos ter seduzido, obrigado por termos nos permitido seduzir, obrigado por nos dar a possibilidade de retornarmos a ti e por nos recuperar após cada tentativa de fuga. Obrigado por confiar a nós 'a custódia de teus átrios (Zac 3, 7) e por fazer de nós “a tua boca”. Obrigado por nosso sacerdócio!
(Tradução de Paulo Marcelo Silva) 
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[1] Cit. nella Lettera di indizione dell'anno sacerdotale di Benedetto XVI
[2] Cf. Agostino, Sermo 46: CCL 41, pp.529 ss.
[3] Teresa d'Avila, Vita, cc. 7-8.
[4]  Ib.  9, 1-3