Wednesday, August 4, 2010

A verdade sobre Educação

Mais Chesterton para vocês. Dessa vez o artigo foi tirado do livro O que Está Errado com o Mundo. Muito embora ele faça referências aqui a certos personagens a nós desconhecidos (bom, falo por mim, não sei a extensão cultural de todos aqueles que vão ler este texto), é possível entender a idéia que ele quer passar. Boa leitura.

Quando um homem é convidado a escrever o que ele realmente pensa sobre educação, uma certa gravidade lhe aperta e enrijece a alma, o que poderia ser confundido com a idéia superficial de desgosto. Se é verdade que os homens estão enjoados de palavras sagradas e cansados de teologia, se essa irritação irracional comum contra "dogma" surgiu de fato por um excesso absurdo de tais coisas entre os sacerdotes no passado, então imagino que estamos deixando uma bela produção de calão para deixar nossos descendentes enjoados. Provavelmente, a palavra "educação" um dia parecerá tão sem propósito e tão antiga como a palavra "justificação" hoje em um fólio Puritano. Gibbon achou assustadoramente engraçado que as pessoas tivessem brigado sobre a diferença entre "Homoousion" e Homoiousion". Chegará a época em que alguém vai rir ainda mais ao pensar que os homens bramiram contra a Educação Sectária e também contra a Educação Secular; e que os homens de destaque e posição realmente denunciaram as escolas por ensinar um credo, e também por não ensinar uma Fé. As duas palavras gregas de Gibbon são bastante parecidas, mas elas realmente significam coisas completamente diferentes. Fé e credo não são parecidos, mas querem dizer exatamente a mesma coisa. Acontece que credo é fé em latim.

Agora, depois de ter lido inúmeros artigos de jornais sobre educação, e até mesmo escrito uma boa parte deles, e tendo ouvido a discussão interminável e ensurdecedora ao meu redor quase desde que eu nasci, sobre se a religião era parte da educação, sobre se a higiene era parte essencial da educação, sobre se o militarismo era incompatível com a verdadeira educação, eu, naturalmente, ponderei muito sobre este substantivo recorrente, e tenho vergonha de dizer que foi relativamente tarde na minha vida que eu enxerguei o principal fato sobre isso.

Naturalmente, o principal fato sobre educação é que não existe tal coisa. Ela não existe, como a Teologia ou Militarismo. Teologia é uma palavra como Geologia, a vida militar é uma palavra como soldagem, estas ciências podem ser saudáveis ou não como hobbies, mas lidam com rochas e chaleiras, com coisas definidas. Porém educação não é uma palavra como geologia ou jarros. Educação é uma palavra como "transmissão" ou "herança", não é um objeto, mas um método. Deve significar a transmissão de determinados fatos, opiniões ou qualidades, até o último bebê que nascer. Eles podem ser os fatos mais triviais ou as opiniões mais absurdas ou as qualidades mais ofensivas, mas se são transmitidos de uma geração para outra, são educação. Educação não é uma coisa como teologia, não é uma coisa inferior ou superior, não é uma coisa na mesma categoria de termos. Teologia e educação estão para si como uma carta de amor está para o Correio. O sr. Fagin foi tão educativo como Dr. Strong, na prática, provavelmente, mais educativo. Significa dar algo - talvez veneno. Educação é tradição, e tradição (como o nome indica) pode ser traição.

Esta verdade primeira é francamente banal, mas é tão perpetuamente ignorada na nossa prosa política que precisa ser esclarecida. Um menino em uma pequena casa, filho de um pequeno comerciante, é ensinado a tomar seu café da manhã, a tomar seu remédio, a amar seu país, a fazer suas orações, e a usar suas roupas de domingo. Obviamente Fagin, se encontrasse um menino assim, iria ensiná-lo a beber gin, a mentir, a trair seu país, a blasfemar e usar bigode falso. Mas assim também o sr. Salt, o vegetariano, aboliria o desejum do rapaz, a sra. Eddy jogaria fora o remédio dele, o conde Tolstoi iria repreendê-lo por amar seu país, o sr. Blatchford o faria parar com suas orações, e o sr. Edward Carpenter, teoricamente censuraria seu traje dominical, talvez, todo tipo de roupa. Eu não defendo qualquer um desses pontos de vista avançados, nem mesmo de Fagin. Mas eu pergunto o que, entre muitos desses, foi feito da entidade abstrata chamada educação. Não é (como comumente se supõe) que o comerciante ensine educação mais cristianismo, o Sr. Salt, educação mais vegetarianismo; Fagin, educação mais crime. A verdade é que não há nada em comum entre estes educadores, exceto que eles ensinam. Em suma, a única coisa que eles compartilham é a única coisa a qual professam ter aversão: a idéia geral de autoridade. É singular que as pessoas falem em separar dogma da educação. Dogma é realmente a única coisa que não pode ser separada da educação. Dogma é educação. Um professor que não seja dogmático é simplesmente um professor que não ensina.