Monday, September 26, 2011

Disponibilidade: Uma introdução breve

Hoje trago um texto retirado do livro de Robert Wicks Availability e traduzido por mim.


Disponibilidade é um dom simples porém enorme. A liberdade de se fazer presente quando necessitam de nós é algo especial. É uma oportunidade de ser espiritual - de estar aberto ao relacionamento no sentido mais profundo e elegante do termo. Porém, este estado de vida maravilhoso, frequentemente parece estar oculto ou distorcido nos dias de hoje. Hoje, a disponibilidade está escassa.

Alguns de nós é "muito disponível". Deste modo, a verdadeira disponibilidade se torna enfraquecida. Ficamos muito ocupados para rezar, muito cansados para refletir, e, ironicamente, muito estimulados interpessoalmente para nos fazermos verdadeiramente presentes para os outros.

Alguns ficam ansiosos e se esquivam. Estar disponível para Deus parece causar muitas perguntas e dúvidas. Passar algum tempo sózinho já não é mais relaxante; pelo contrário, sentimos solidão ou ficamos preocupados com nossos erros e falhas. E estar com os outros também não parece ajudar; em alguns casos, nos sentimos usados, desprezados, ou incompreendidos. O resultado final é que nossas expectativas de intimidade não se concretizam e sentimos necessidade de nos afastar mais ainda.

Esta situação não só é triste; mas é perigosa. Sem um senso de disponibilidade para si mesmo, para os outros e para Deus, a vida perde sua espiritualidade. Os relacionamentos sofrem, se rompem, e ficamos com um vazio ou com um sentimento de confusão.

Estar disponível aos outros - o tanto quanto for possível - exige que estejamos continuamente conscientes de quem somos psicologicamente, e onde estamos espiritualmente. Em outras palavras, devemos fazer um esforço para termos "consciência própria" o tanto quanto for possível.

Este ponto obviamente não é novo. Os terapeutas apontam para a necessidade daqueles que querem ajudar de estarem constantemente num processo de auto-avaliação. Figuras religiosas, como Santa Teresa de Ávila, desde muito precederam os psicólogos, enfatizando este mesmo sentimento do ponto de vista teológico; conhecimento próprio e conhecimento de Deus andam juntos. Assim, do ponto de vista psicológico devemos procurar aprender quais são nossas motivações e intenções inconcientes, enquanto que do ponto religioso, devemos sempre procurar discernir onde o espírito nos está levando.

Quanto mais removermos aquilo que bloqueia nossa capacidade de percebermos quem somos e em quem seremos, mais verdadeiros poderemos ser em nossa resposta ao chamado do Evangelho para servirmos a Deus e ao próximo. Devemos estar disponíveis, assim, para nós mesmos, a fim de que nossos relacionamentos possam fluir de uma atitude saudável e de uma consciência clara sobre nossas motivações.

Friday, February 25, 2011

Ler só não: viver

Hoje vos trago um texto extraído do livro Via Sacra (9, 3), de São José Maria Escrivá. É pequeno, mas diz muita coisa.

Queres acompanhar Jesus de perto, muito de perto?... Abre o Santo Evangelho e lê a Paixão do Senhor. Mas ler só, não: viver. A diferença é grande. Ler é recordar uma coisa que passou; viver é achar-se presente num acontecimento que está ocorrendo agora mesmo, ser mais um naquelas cenas.

Deixa, pois, que teu coração se expanda, que se coloque junto do Senhor. E quando notares que se escapa — que és covarde, como os outros — , pede perdão pelas tuas covardias e pelas minhas.

Wednesday, January 12, 2011

Qual é a tarefa principal dos Pastores na Igreja

«Não convém que deixemos a palavra de Deus para servirmos `as mesas»

Esta frase é dos doze apostólos e pode ser lida no capítulo 6 dos Atos. Abaixo reproduzo o comentário da Bíblia de Navarra sobre este texto:

Os doze estabelecem um princípio que lhes parece categórico: o ministério apostólico que lhes está encomendado é de tal modo absorvente que se torna incompatível para eles com outros ofícios. A atenção espiritual da comunidade não lhes permite ocupar-se por mais tempo no serviço das mesas. Uma tarefa boa e nobre em si mesma há-de ceder perante outra mais excelente ainda, essencial para a vida da Igreja e de cada um dos seus membros. «Falam de não conveniência — escreve São João Crisóstomo — para fazer ver que as duas obrigações não se podem conciliar neste caso» (Hom. sobre Act, 14).

A tarefa principal dos Pastores na Igreja é pregar a Palavra divina, administrar os sacramentos e governar o Povo de Deus. Qualquer outro encargo há-de ser congruente com a cura das almas e ajudar a realização mais completa e profunda desta, segundo o exemplo de Cristo; que curava os corpos para chegar `a alma e que pregava a justiça e a paz como manifestações do Reino de Deus.

«Está nisto um traço bem vincado da nossa identidade, que dúvida alguma jamais deveria fazer desvanecer, que nunca objeção alguma deveria eclipsar — diz Paulo VI na Exortação Apostólica Evangelii nuntiandi aos Bispos e sacerdotes de todo o orbe católico —. Como Pastores, nós fomos escolhidos pela misericórdia do Supremo Pastor (cfr 1 Pet 5,4), apesar da nossa insuficiência, para proclamar com autoridade a Palavra de Deus, para reunir o Povo de Deus que andava disperso, para alimentar este mesmo Povo com sinais da ação de Cristo que são os sacramentos, para o encaminhar para a via da salvação, para o manter naquela unidade de que nós somos, em diferentes planos, instrumentos ativos e vivos» (n.68)

O sacerdote há-de estar faminto da Palavra de Deus — recordou igualmente João Paulo II —, abraçá-la na sua integridade, meditá-la, estudá-la assiduamente, e difundi-la com o exemplo da pregação (cfr, por ex., Alocução 1-X-1979; Discurso 3-X-1979). Toda a vida do sacerdote deve ser proclamação generosa de Cristo. Há-de evitar, por isso, a tentação da «liderança temporal, que facilmente pode ser fonte de divisão, enquanto ele deve ser sinal e fator de unidade e de fraternidade» (Aos sacerdotes do México, 27-I-1979).

Friday, January 7, 2011